Uma notícia recentemente divulgada registrou que na Alemanha cerca de
200 mil fiéis abandonaram seus templos em 2014, um aumento de 45% com relação a
2012 (em 2013 não houve levantamento).
Existem alguns detalhes que tentam explicar o fenômeno, como por exemplo,
o fato de que ser membro de uma igreja na Alemanha também significa pagar o
kirchensteuer (imposto da igreja), uma espécie de dízimo que é recolhido
diretamente sobre os salários e ganhos dos fiéis pela própria receita federal
do país.
O problema agravou quando a receita anunciou um reforço nos controles
a partir de janeiro de 2015, com o objetivo de fechar brechas que permitiam
sonegar. Algumas centenas de quilômetros para o lado ocidental do globo, o
mesmo problema encontra as igrejas, mas sem o reforço e a explicação tributária
para a saída de pessoas das igrejas.
O que de fato está acontecendo? Quero compartilhar nesse artigo
algumas preocupações que tenho com o cristianismo dos nossos dias.
Há muitas pessoas que querem seguir a Cristo, mas não querem se
comprometer com Cristo, ou seja, querem Jesus por causa dos benefícios que Ele
pode dar, ou que esperam que o evangelho dê. Assim, multidões lotam igrejas
unicamente interessadas naquilo que Deus pode fazer por elas.
Na época de Cristo muitos queriam apenas os peixes, pão, curas,
milagres que Cristo realizava, mas não queriam o compromisso. Hoje ocorre o
mesmo. Esperam que Cristo dê a eles uma casa nova, um carro novo, uma vida
financeira abastada, ou seja, interesses econômicos. Alguns sociólogos, com uma
visão evolucionista obviamente, afirmam que a humanidade viveu três fases
distintas.
Mitológica: onde não se conhecia as leis naturais e todas as
manifestações eram aplicadas a Deus. Chovia – era uma manifestação divina.
Algumas culturas desenvolveram deuses para tudo.
Racionalista: mesmo antes de Sócrates e Platão o homem entrou nessa
fase. Os eventos não são mais atribuídos meramente a deuses, mas qual o motivo
de acontecer: chove, por que chove?
Utilitarista: é a fase que vivemos hoje – não se atribui chuva aos
deuses, não se pergunta o porquê, mas sim o que é que eu vou ganhar com isso.
Chove – o que eu ganho?
A falta de comprometimento se explica também pela forte pregação que
vagueia por aí da teologia da prosperidade. Entregue a sua vida a Jesus e Ele
vai pagar as suas contas! Determine quanto você quer ganhar!
Quando essas pessoas se deparam com a realidade do evangelho, acham
melhor abandonar, porque quando encontram Jesus, não encontram essas promessas
vazias que são vociferadas por aí. Compromisso com Deus é como no casamento: na
saúde e na doença, na prosperidade e na adversidade.
Há também os que abandonam a igreja por causa dos outros. Certa vez
quando visitei uma pessoa que havia saído da igreja por problemas pessoais pedi
a ela que escrevesse em um papel tudo o que lhe fez se afastar da igreja.
Depois, pedi a ela que guardasse muito bem guardado aquele papel que serviria
de defesa para ela, para que no dia da volta de Jesus ela então pudesse ler
para Deus os motivos que fizeram com que ficasse afastada dEle. Daí lhe
perguntei: o que você escreveu seria um bom argumento para Deus lhe salvar e
deixar você entrar no céu? Não era e ela não saiu.
Eu sei que existem problemas na igreja e alguns deles estão na
essência do que ela é. A igreja não é um museu, mas uma fábrica. Em um museu
ocorre a exposição de peças há muito acabadas que agora são apenas
contempladas. Mas o contrário é o que ocorre na fábrica. Separadas em diversos
grupos existem as peças que estão começando a ser preparadas, as meio
preparadas, as quase preparadas e ainda as com defeito. Assim é a igreja, não
estamos em uma vitrine para ser admirados, mas somos peças em preparação.
A igreja deve ser um hospital onde pecadores se recuperam. E onde há
um hospital, existem médicos, onde existem médicos existe a prescrição. A
prescrição do hospital igreja é: contemple a Jesus Cristo para que haja
transformação de vida e não se preocupe tanto com as pessoas e os seus
defeitos.
Outro aspecto apresenta Paulo em Romanos 10:9 que diz: “Se, com tua
boca confessares Jesus como Senhor e em teu coração creres que Deus o
ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.
Esse texto explica muita coisa do problema que estamos enfrentando com
os que estão deixando a igreja. O psiquiatra Paul Turnier explica o sentido do
texto ao definir que “pessoa alguma chega a plenitude de suas convicções à não
ser expressando-as a outros”. Isso quer dizer que se você não fala no que crê,
com o tempo, perceberá que não crê em nada.
Quem testemunha da fé nunca a abandona. Não dá para sentir
permanentemente a paz de Jesus Cristo se eu não disser a outros. Quer ter a
vida eterna? Diga a todos. Ajudando aos outros chegarem no céu, estou eu
caminhando na mesma direção. Quando testemunho além de ajudar pessoas a se
salvarem, estou trazendo salvação para mim mesmo.
Nessa ótica, cada um desses aspectos pode ser mudado vivendo o que na
Bíblia é chamado de discipulado. Uma vida que dedica a primeira hora do dia
para Deus, que desenvolve seus relacionamentos e tem o foco na missão é uma
vida que não abandonará a igreja, Jesus e a salvação.
O conselho bíblico é pertinente: “Crede no Senhor vosso Deus e
estareis seguros…” 2 Crônicas 20:20.
Rafael Rossi
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