Paulo diz, em Romanos 2:14-16, que os gentios serão julgados por
aquilo que a consciência lhes disse. E que eles “servem de lei para si mesmos”
(Rm 2:14). Então, por que pregar o Evangelho às pessoas? Precisariam um
indígena, um pagão africano ou um budista, por exemplo, ouvir o evangelho para
ser salvo?
Essa é uma questão que intriga muitos cristãos. Mas, com base na
Bíblia, podemos ver pelo menos dez razões para cumprir o “Ide” de Cristo. Devo
pregar o Evangelho porque:
1. Cristo ordenou. “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt
28:19). Uma vez que Ele mandou, deve haver razões para isso. Do contrário, Ele
não teria mandado.
2. Contribui para a minha própria salvação. “Assim, pois, amados meus,
como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na
minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (Fp 2:12), é o
conselho do apóstolo Paulo. Ao pregar para os outros sobre a vida eterna, eu mesmo
não desejarei ficar fora dela.
3. O Evangelho apresenta um correto conceito sobre Deus, que, acima de
tudo, é amor. “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo
4:8). O conceito de um Deus que ama Suas criaturas a ponto de morrer por elas
não está presente nas religiões pagãs. Mesmo entre os cristãos, muitos vêem
Deus como um ser duro, juiz severo, pronto a punir pelo menor erro cometido.
4. Com a pregação do Evangelho, começa a restauração da imagem de Deus
em quem o aceita: “Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no
Senhor; andai como filhos da luz” (Ef 5:8). “E a vós outros também que,
outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras
malignas” (Cl 1:21). Pela aceitação do Evangelho, a imagem de Deus já começa a
ser restaurada no ser humano e há grande melhora na qualidade de vida de quem o
aceita: canibais se tornam seres ternos e amáveis; pessoas sujas, doentes e
quase sem nenhuma higiene se tornam limpas e saudáveis; o medo dos deuses e dos
espíritos dá lugar à adoração a Deus pelo amor, etc.
5. A pregação do Evangelho prepara o mundo para o fim: “E será pregado
este Evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações.
Então, virá o fim” (Mt 24:14). Obviamente, Deus não ficará como nosso refém
quanto a vir ao mundo somente quando pregarmos o Evangelho. Se não o fizermos,
Ele empregará outros meios e outras pessoas. O fato é que a pregação do
Evangelho prepara as pessoas para os eventos finais da história deste mundo.
6. A pregação do Evangelho é a regra pela qual as pessoas conhecem o
plano da salvação e podem ser salvas: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas
as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou
convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28:19, 20). Um indígena
ou pagão que morre sem conhecer o Evangelho será salvo ou se perderá de acordo
com a luz que teve quanto ao certo e errado (Rm 2:14, 15), mas essa é a exceção
ao plano normal de Deus quanto à salvação. A exceção só confirma a regra.
7. Ajuda-me a ser altruísta e a cumprir o mandamento “Amarás o teu próximo,
como a ti mesmo” (Mc 12:31). O que desejo para mim (salvação, vida eterna, uma
pátria celestial, reencontro com os entes queridos mortos, etc.) devo desejar
também para meu semelhante.
8. Faz-me empático e parecido com Deus, o qual “deseja que todos os
homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2:4). Ao
pregar, engajo-me na mesma obra salvífica de Deus. Que privilégio o dos
pregadores do Evangelho!
9. Pela pregação do Evangelho, o reino de Cristo invade o reino de
Satanás, limitando, e mesmo quebrando, o poder desse inimigo sobre os
pecadores. “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o
reino do Filho do Seu amor” (Cl 1:13).
10. A palavra de um pecador convertido tem mais credibilidade para
outro pecador do que as palavras de um anjo de Deus, pois anjos não conhecem,
por experiência, as lutas, tentações e limitações de um ser humano. São os
seres humanos que devem ser “embaixadores de Deus”. “De sorte que somos
embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em
nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus” (2Co 5:20). Também
somos “carta de Cristo”: “Estando já manifestos como cartade Cristo, produzida
pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus
vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações”
(2Co 3:3).
O papel de “embaixador” e “carta” é dado aos seres humanos, e não a
anjos, que nunca pecaram.
Como está você no assunto da pregação do Evangelho? Engajado? Se não,
por quê? A verdade é que Deus não tem outra boca a não ser a nossa, outros pés
que não os nossos, outras mãos que não as nossas. Ele poderia pregar o
Evangelho mais rapidamente e melhor por outros meios, mas Ele prefere contar
com você.
Por Ozeas C. Moura, doutor em Teologia Bíblica e professor de teologia no
Salt/Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP.