Há alguns meses,
enquanto ministrava a palavra de Deus em um culto doméstico, fui impelido pelo
Espírito Santo a fazer algumas perguntas que nos surpreenderam, principalmente
pelas respostas. Comecei por perguntar quem, dentre nós que ali estávamos, se
considerava como “crente”. Sabia que nem todos ali eram assíduos em igrejas
(muito embora isso não signifique muita coisa) então, como eu já esperava,
poucos levantaram as mãos. Logo depois, perguntei quantos eram “cristãos” e,
foi neste momento, que o clima ficou “engraçado”, uma vez que as pessoas
começaram a se entreolhar como que se perguntassem: “... Ué, ele não acabou de
perguntar isso agora mesmo?”.
Naquele momento,
surgiu essa reflexão. Eles simplesmente não sabiam a diferença entre ser
“crente” ou ser “cristão”.
O que ocorreu naquele culto é o que acontece com muitos de nós. Um
erro muito comum que vemos atualmente é a “confusão” que existe ao se
distinguir uma pessoa (ou se auto distinguir) como crente ou cristão, pois TODO
CRISTÃO É CRENTE, MAS NEM TODO CRENTE É CRISTÃO.
O conceito de crente, como diz a própria palavra, é referente a todo
àquele que crê, não se discernindo ou tendo importância em que consiste esta
crença, logo, se a pessoa crê em simpatias, benzeções, despachos, macumbas, ou
outros, ela é crente. Se a pessoa crê em São Fulano ou São Ciclano, também é
crente. Até alguns minutos atrás eu afirmava que até o Diabo era crente. Porém
durante a escrita deste texto, Deus me levou à uma nova concepção sobre o assunto.
Muitas pessoas, assim como eu afirmava, afirmam que até o Diabo é crente porque
ele sabe da existência Deus e sabe da capacidade de Seu poder. Mas isto não
significa que ele acredita em Deus, principalmente, porque “acreditar” vem de
“dar crédito”, e entre o Diabo e Deus não existem créditos. Pense comigo: Você
também sabe da existência dos políticos em nosso país, sabe do poder que eles
têm, sabe que se você “bater de frente” com eles, sairá prejudicado, sabe que,
se eles quiserem podem fazer muito por nosso povo. Mas, você acredita neles?
Não, né? Pois então, a mesma lógica pode se aplicar ao Diabo. Diferentemente
das pessoas que acreditam no Diabo que, por suas religiões e culturas, o
adoraram e confiam nele. Estas sim, podem ser consideradas como crentes.
E aqui se encerra o que é ser, simplesmente, crente. Não há muito que
se dizer sobre isso.
Entretanto, o conceito de cristão refere-se a todo àquele que segue os
preceitos e ensinamentos deixados por Cristo, através de Sua vida, nos
evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), e isto, independe de religião,
podendo ser católico, evangélico, ou outro.
Para a nossa reflexão de hoje, quero enfatizar a principal diferença
entre ser crente e ser cristão: A NOSSA ATITUDE FRENTE ÀS CIRCUNSTÂNCIAS DO DIA
A DIA.
Quando
verdadeiramente nos convertemos e passamos a professar a fé cristã, isto é, a
fé em Jesus Cristo, mudamos nosso foco, mudamos nossa visão e passamos a viver
segundo os valores de Cristo, respeitando e amando as pessoas, cultivando
valores sociais e morais que são importantes ao crescimento do ser humano.
Deixamos então de ser egocentristas (o “eu” no centro de nossas vidas) para
sermos Teocentristas (Deus no centro de nossas vidas) e quando assim o fazemos,
colocando Deus no centro, passamos a viver a realidade do evangelho de “uns com
os outros” e não “cada um por si mesmo”.
Não sei se é verdade,
mas ouvi que certa vez, alguém (acreditando que “ganharia” uma alma
valiosíssima para Deus) perguntou à Dalai Lama por que ele, com tantas boas
ações e uma excelente conduta moral, não se tornava um “cristão”, e ele, com a
sabedoria imensa que Deus lhe deu, respondeu que “até se tornaria um cristão,
se os cristãos que se dizem de Cristo, vivessem como se de Cristo fossem”.
Analisando as
palavras e atitudes de Dalai Lama e de tantas outras pessoas que agem com
pureza de alma, fazendo o bem aos homens sem esperar nada em troca, vivendo
"Jesus" sem nem mesmo falar em Jesus, é possível chegar à conclusão
de que existem muitos “crentes” nas igrejas e muitos “cristãos” fora delas.
Não raro, vemos
pessoas que batem no peito e entendem que, sendo eles evangélicos, devem se
importar apenas com os seus relacionamentos diretos e exclusivos com Deus, no
entanto, se esquecem de que o Evangelho de Cristo significa “uns com os
outros”, assim quando fazem a um de seus pequeninos irmãos, o fazem ao próprio
Deus (Mt 25:45) pois é fazendo algo para o próprio Deus, mesmo que através de
nosso próximo, que somos abençoados. Antes de termos comunhão na “vertical” é
necessário termos comunhão na “horizontal”.
Lembremo-nos de que
somos o Sal da Terra e a Luz do Mundo (Mt 5:13-14). Ora, o sal só mostra o seu
real valor quando está em contato com algo onde não há sal, e a luz só faz
diferença onde não há luz, isto é, a vida cristã é para ser vivida fora da
igreja (o que não significa deixar de ir à igreja, hein?!), devemos fazer a
diferença na “carne”, tornando-a uma carne melhor, até que ela seja convencida
de seus pecados pelo Espírito Santo (Jo 16:7-8), e que tenha desejo de se
tornar sal como nós. Como luz, devemos levar a claridade onde as trevas têm
predominado. Jesus nos deixou uma ordem muito clara: “Ide por todo o mundo e
pregai o evangelho a toda criatura (Mc 16:15)” e não “ficai em sua igreja e
vivei o evangelho”.
Existe um relato
bíblico que muito se encaixa no contexto desta reflexão. Jesus havia levado a
Pedro, Tiago e João à um alto monte, onde se transfigurou diante deles e
conversou com Moisés e Elias (Mc 9:2-4). Diante daquela situação, Pedro,
estonteado pela glória de Deus que acabara de ver naquele local, teve uma
“brilhante idéia” e propôs a Jesus que fizessem ali três cabanas (uma para
Jesus, uma para Moisés e outra para Elias) e que dali não saíssem mais. Eles
queriam viver aquele momento eternamente.
Eles foram
grandemente abençoados pelo que acontecera no “monte”, porém a santidade deve
ser vivida nos “vales”. Não podemos viver os preceitos de Deus apenas dentro
das igrejas onde estamos, é necessário que vivamos isto no nosso cotidiano,
quando as coisas não saem como queríamos, quando nós nos frustramos, quando
somos reprovados num exame de habilitação, quando levamos um “pisão” no pé
dentro de um ônibus cheio. Ser cristão é ser exatamente igual às outras
pessoas, apenas tomando atitudes diferenciadas diante das mesmas situações.
Enquanto uns iriam xingar, ficar irados e/ou “louvar” a mãe de outros,
simplesmente, louvamos à Deus e cremos que se algo aconteceu, por pior ou mais
desagradável que seja, Ele permitiu.
Muitos acreditam e
adoram à um Deus que age dentro das igrejas nos dias de culto. Esquecem-se de
que o Deus verdadeiro também é o Deus da segunda-feira, da terça-feira, e da
semana toda. É fácil ser cristão dentro dos cultos, abraçando e cumprimentando
à pessoas conhecidas. Contudo, devemos dar glória e fazer a diferença quando
nos deparamos com as adversidades do dia a dia, quando somos injustiçados e mal
interpretados pela nossa crença. Quando somos estereotipados por muitos outros
“cristãos” que agem de forma totalmente vergonhosa ao evangelho. Existem também
aqueles que acreditam que ser cristão é usar um terno com gravata (homens) ou
vestidos longos e de mangas compridas (mulheres). Acreditam que somos
reconhecidos por nossas roupas, quando na verdade somos reconhecidos pelas
nossas atitudes.
Não sei quem é você,
onde você está e nem onde você se encaixa. Crente, cristão ou nenhum dos dois.
Mas independente de qualquer coisa, quero deixar à você o meu (curto e humilde)
conhecimento e a visão que Deus colocou em meu coração para compartilhar. SER
CONVERTIDO É DIFERENTE DE SER CONVENCIDO. Agora cabe à você: Se manter como
está, ou fazer as alterações que julgar necessário em sua postura de vida.
Lembremo-nos, porém, de que não
temos todo o tempo do mundo, pois devemos buscá-Lo enquanto O podemos achar, e
invocá-Lo enquanto Ele está por perto (...) – Is 55:6.
Que Deus lhe abençoe, hoje e sempre.
Vitor Emanoel Jr.
Vitor Emanoel Jr.
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