Talvez você já tenha ouvido muitas pregações sobre o juízo
investigativo em que essa frase aparece destacada, muito bem sublinhada pelo
pregador.
Quando era garoto, e já começava a entender um pouco mais das
mensagens apresentadas pelos pregadores, cada vez que ouvia essa frase no
púlpito eu ficava paralisado, quase em estado de choque. E uma dúvida cruel
ficava martelando na minha cabeça:
Será que meu nome está sendo examinado agora no juízo? Será que já fui
julgado? E se isso aconteceu, fui considerado salvo ou perdido para sempre?
Nos últimos anos, esse assunto deixou de frequentar a maioria dos
sermões escatológicos.
Alguns anos atrás, quando tivemos uma lição da Escola Sabatina que
tratou exaustivamente sobre o Santuário, o tema voltou ao palco. Na ocasião, eu
residia nos Estados Unidos e assistia numa igreja brasileira. Sábado pela
manhã, durante a lição, o assunto explodiu com toda a força.
Um pastor, entre os presentes, afirmou com todas as letras que nenhum
de nós sabe quando o juízo no céu passará a examinar os casos dos vivos.
Portanto, é possível sim, pelo menos teoricamente, que o nosso nome venha a ser
examinado a qualquer momento, enquanto estamos vivos. Por que não hoje, agora?
A igreja se dividiu numa acalorada discussão. Alguns irmãos olhavam para mim,
sinalizando que eu me posicionasse.
A princípio, fiquei apenas assistindo. Achei que não valia a pena
entrar no debate, que hoje considero sem propósito.
Falando francamente, à luz da Palavra de Deus, não posso concordar com
essa tese que apresenta apenas “meia verdade”. É certo que, em algum momento,
por ocasião do selamento, e já muito próximo da volta de Jesus, isso deverá
acontecer, mas ainda não chegamos a esse ponto da História.
Prosseguindo nessa conversa franca, espero que esse tempo chegue logo!
Estou ansioso pela volta de Jesus, mais do que nunca!
Assim como eu me sentia apavorado com essa possibilidade, nos meus
tempos de menino, sei de muitos que ainda hoje se sentem inseguros e
amedrontados com esse tipo de pregação. Pude constatar naquela sábado durante a
lição da Escola Sabatina.
Faz algum tempo, o Pastor Rubem Scheffell, grande amigo meu e colega
de redação na CASA, escreveu um artigo muito esclarecedor sobre o assunto,
publicado pela revista Ministério.
Com a devida permissão do Pr. Scheffel, transcrevo a seguir alguns
trechos de seu artigo que nos ajudarão a compreender porque nós, os que estamos
vivos hoje, ainda não tivemos nossa sorte selada pelo juízo investigativo.
Confira.
Se só os mortos estão sendo julgados desde 22 de outubro de 1844, isto
significa que esse juízo está completando 166 anos de duração ainda neste ano.
E a pergunta que surge é a seguinte: “Por que será que esse julgamento dos
mortos ainda não terminou?”
A resposta é simples. Embora o tribunal divino tenha diante de si uma
tarefa gigantesca, que é a de julgar bilhões de mortos, o julgamento ainda não
terminou porque há pessoas morrendo todos os dias. Em média, 140.000 pessoas
morrem cada dia, ao redor do mundo, ou aproximadamente 50 milhões por ano.
Então, o número de mortos para serem julgados não é fixo. Ele aumenta cada dia.
Entretanto, nós sabemos que haverá um grupo de remidos que não passará
pela morte, o que significa que eles terão de ser julgados em vida. Ellen White
diz que “quando esta obra se completar [o julgamento dos mortos], o juízo deve
ser pronunciado sobre os vivos” (ME, vol. 1, p. 125).
E quando o juízo passará aos vivos? É novamente Ellen White quem
responde: “Breve, ninguém sabe quão breve, passará ela [a obra do juízo] aos
casos dos vivos” (GC, p. 490). Ela acrescenta ainda: “Agora, quando encerrar o
tempo de graça, todos serão levados a tomar sua decisão final em relação à
verdade, como consequência do desencadeamento de fatores especiais, como o
derramamento do Espírito Santo, a sacudidura e os sinais evidentes da
proximidade da volta de Jesus.”
Deus não decidirá o caso de ninguém, para a vida ou para a morte,
enquanto a pessoa tiver possibilidade de mudança. Só depois que todos tiverem
feito a sua opção em caráter definitivo, é que se fecha a porta da graça,
quando então Cristo dirá: “Está feito.” “Continue o injusto fazendo injustiça,
continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e
o santo continue a santificar-se” (Ap 22:11).
Alguns têm-se perguntado: “E se meu nome for julgado agora, que será
do restante de minha vida?” Já explicamos que o juízo é após a morte. Portanto,
nenhum vivo está sendo julgado agora.
Do exposto podemos concluir o seguinte:
1. O Juízo Investigativo é realizado em duas etapas: primeiro os
mortos e depois os vivos.
2. O juízo passa dos mortos para os vivos ao tempo do selamento, que
precede a sacudidura. Isto significa que nenhum vivo está sendo julgado agora.
3. Ambas as fases do juízo terminam ao se fechar a porta da graça. Não
haverá julgamento, quer de vivos quer de mortos, após essa ocasião, pois Cristo
terá encerrado Sua obra intercessória no santuário celestial: “Cada caso fora
decidido para vida ou para morte. Enquanto Jesus estivera ministrando no
santuário, o juízo estivera em andamento pelos justos mortos, e a seguir pelos
justos vivos” (PE, 280).
Meu querido irmão, não creio que devamos gastar nosso precioso tempo nessas
discussões que só levam a algo que me atreveria a chamar de “terrorismo
escatológico”.
No calor do embate desse tema, durante a lição que mencionei há pouco,
o Senhor colocou em meus lábios uma declaração que praticamente colocou ponto
final no assunto.
Eu disse aos irmãos o seguinte:
Sabemos que o juízo começou pelos mortos e prossegue ainda nessa fase,
pelo que podemos entender de alguns textos bíblicos específicos sobre o juízo:
“E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois
disto, o juízo” (Hebreus 9:27). “Na verdade, as nações se enfureceram; chegou,
porém, a Tua ira, e o tempo determinado para serem julgados os mortos...”
(Apocalipse 11:18). “Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em
pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da
Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o
que se achava escrito nos livros” (Apocalipse 20:12).
E nós ainda estamos vivos, agora. Ninguém tem dúvidas quanto a isso.
A questão maior que se coloca é: quem aqui pode afirmar que estará com
vida amanhã, ou daqui a uma hora, ou até mesmo daqui a um minuto? Se a morte
nos levar a qualquer momento, então, sim, nossa sorte estará selada para sempre
e nosso nome estará arrolado para ser examinado no juízo investigativo. Esse é
o ponto que deve nos guiar nesse assunto.
Finalizo esta reflexão com uma pergunta que cada um pode fazer a si
mesmo, agora: Se neste instante entrarmos para o rol dos mortos, fará alguma diferença
manter essa discussão sobre o tempo do juízo para os vivos?
Nosso preparo tem de ser diário, nosso relacionamento com Jesus
precisa ser contínuo.
Então, o que poderemos temer quanto ao juízo investigativo?
Autor: Wilson
Almeida